Todo verão um dia acaba e apaixonado que sou pelas coisas do mar, sempre demorei pra aceitar isto. Quando criança, o verão estava sempre associado às raras oportunidades que eu tinha de ver o mar. O fim do verão significava então quase que um fim desolador desta paixão e o abandono da esperança. Vivendo um dia após o outro, sem a certeza do amanhã, a chegada dos primeiros dias frios anunciava um período triste onde tudo o que me restava era sonhar. O término deste período marcava tristemente a minha vida. O tempo passou, os ciclos eternos se alternavam em ritmo de luz e escuridão e percebi que, como parte desta louca loteria cósmica, minha história também seria narrada em ciclos. E finalmente este ciclo então se encerrou. Os tempos duros ficaram pra trás, e torço para que por lá eles fiquem. Não vivo mais de dramáticas alternâncias, minha vida segue um fluxo perene em direção a tudo que eu sonhava. Porém, enceno minha trajetória por aqui em um gigantesco palco que orbita em torno do Sol e isto determina sim o ritmo de nossas vidas, de nossas lembranças, tudo calcado na fluidez da sábia transitoriedade criada pelo universo.
Neste ano toda esta alternância e transitoriedade parecem ter ficado ainda mais evidentes. Na ultima quinta-feira deixei para trás o período do início do ano em meio às cores do verão, e neste domingo encontro Curitiba já envolta em clima de mais um outono em minha vida. Agora é tempo de cuidar com mais afinco de projetos pessoais, de seguir com mais rigidez o rumo de minha razão, de centrar o foco na família e nos verdadeiros amigos.
Não há como negar, no verão sou guiado pelas vontades urgentes, pela profusão, pela novidade. E é sim,muito bom experimentar, viver a abundância de sensações, e uma certa alegre e descompromissada maneira de encarar o dia a dia. Mas é legal um tempo neste ritmo vertiginoso sugerido pelos alegres dias do verão e hoje não vejo mais o equinócio austral de primavera como o início de dias desesperançosos.
Entendo que com a chegada do outono o Universo sabiamente encerra mais um ciclo. Muitas coisas se vão, irão se perder em minha memória. Permanecem por certo ainda as boas lembranças, os grande amores, o registro vívido de cada grande emoção.
Ah, e o mar , que a tanto tempo atrás era um sonho, finalmente é parte de minha vida. Uma parte importante, fundamental, e principalmente constante, que vivo junto a tudo de bom que construí dentro desta incrível alternância de ciclos e renovações que se encaixam tão perfeitamente nesta milagrosa e intensa jornada que é viver!