domingo, 24 de abril de 2011

Transição

Da festa que representava na antiguidade o equinócio boreal da primavera, à celebração cristã da ressurreição de Jesus, a Páscoa realmente representa de forma nítida mais uma transição em nossas vidas. Hoje, como parte da imensidão deste Universo entendi que vivo inserido neste plano eterno de renovação. Em termos astronômicos, vivemos aqui nas imediações do trópico de Capricórnio justamente o inverso daquilo que motivou a celebração na Páscoa no hemisfério norte. Enquanto por lá celebra-se o fim do clima austero e do predomínio da escuridão , por aqui a parte austral de nosso planeta começa a esquivar-se do sol, trazendo o frio e dias cinzentos. Nada tão dramático, mas para mim não resta dúvida que isto marca a alternância de mais um ciclo.

Todo verão um dia acaba e apaixonado que sou pelas coisas do mar, sempre demorei pra aceitar isto. Quando criança, o verão estava sempre associado às raras oportunidades que eu tinha de ver o mar. O fim do verão significava então quase que um fim desolador desta paixão e o abandono da esperança. Vivendo um dia após o outro, sem a certeza do amanhã, a chegada dos primeiros dias frios anunciava um período triste onde tudo o que me restava era sonhar. O término deste período marcava tristemente a minha vida. O tempo passou, os ciclos eternos se alternavam em ritmo de luz e escuridão e percebi que, como parte desta louca loteria cósmica, minha história também seria narrada em ciclos. E finalmente este ciclo então se encerrou. Os tempos duros ficaram pra trás, e torço para que por lá eles fiquem. Não vivo mais de dramáticas alternâncias, minha vida segue um fluxo perene em direção a tudo que eu sonhava. Porém, enceno minha trajetória por aqui em um gigantesco palco que orbita em torno do Sol e isto determina sim o ritmo de nossas vidas, de nossas lembranças, tudo calcado na fluidez da sábia transitoriedade criada pelo universo.

Neste ano toda esta alternância e transitoriedade parecem ter ficado ainda mais evidentes. Na ultima quinta-feira deixei para trás o período do início do ano em meio às cores do verão, e neste domingo encontro Curitiba já envolta em clima de mais um outono em minha vida. Agora é tempo de cuidar com mais afinco de projetos pessoais, de seguir com mais rigidez o rumo de minha razão, de centrar o foco na família e nos verdadeiros amigos.

Não há como negar, no verão sou guiado pelas vontades urgentes, pela profusão, pela novidade. E é sim,muito bom experimentar, viver a abundância de sensações, e uma certa alegre e descompromissada maneira de encarar o dia a dia. Mas é legal um tempo neste ritmo vertiginoso sugerido pelos alegres dias do verão e hoje não vejo mais o equinócio austral de primavera como o início de dias desesperançosos. Entendo que com a chegada do outono o Universo sabiamente encerra mais um ciclo. Muitas coisas se vão, irão se perder em minha memória. Permanecem por certo ainda as boas lembranças, os grande amores, o registro vívido de cada grande emoção.

Ah, e o mar , que a tanto tempo atrás era um sonho, finalmente é parte de minha vida. Uma parte importante, fundamental, e principalmente constante, que vivo junto a tudo de bom que construí dentro desta incrível alternância de ciclos e renovações que se encaixam tão perfeitamente nesta milagrosa e intensa jornada que é viver!

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