quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Do Shopping pra Areia

Todo mundo vira surfista com o retorno do Sol aqui pros lados do hemisfério sul. Todo mundo é “brother”, todo mundo quer desfilar com sua prancha na areia. Até aí tudo bem. Não que eu me importe, desde que os posers não emporcalhem a areia. O duro é quando o povo que passou o inverno entre o shopping e o sofá arrisca uma aparição no outside.

Quem não conhece imagina que o surf é praticado em um ambiente quase idílico, de camaradagem e gentileza. A verdade é que nos picos mais concorridos quando surfistas se espremem numa valinha o mar vira um ambiente competitivo, tenso e opressor onde um surfista cumprimenta o outro só para estabelecer um certo nível de respeito na água.

No meu pico favorito, Mariscal, ainda é possível curtir o surf como uma experiência mística impermeável a nossa condição de humanos territorialistas e competitivos. Alheio a encarar o surf como um esporte e sim como uma doutrina espiritual, eu consigo estabelecer um regime de restauração de minha alma, frequentemente açoitada pelo caos de existir em um mundo em constante degradação.

Mas alcançar este Nirvana na água é uma questão de equilíbrio. E é difícil encontrar equilíbrio em meio àquilo que tenho por mais abjeto, seja um nativo ignorante, seja um um playboy pavoneando-se na água. Se já é complicado encontrar o meu lugar entre brigas por território, pior ainda é ter que disputar a minha posição no line-up com gente interessada em transformar o mar numa vitrine de vaidades.

O lance é torcer por um verão com cracas gigantes e constantes. Porque assim pelo menos, na primeira remada, o cara que não surfa nada vai deixar sua prachinha ornamentando a areia até a chegada do inverno, quando então ela retornará pro armário, pra debaixo da cama, pra qualquer outro canto que não interfira no surf de verdade...

Surfista Calhorda!

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