quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Midnight Oil

Já falei aqui do Beach Boys os brothers que inventaram a surf music. Dos anos 60 até hoje a música dos Beach Boys é a perfeita tradução do modo de vida dos surfistas. Num ritmo inebriante eles cantavam todas as emoções e situações que cercam o mundo do surf. Porém, nestes anos todos , o surf como cultura e estilo de vida evoluiu e a Surf Music também acompanhou esta evolução.
Com o passar dos anos os surfistas passaram a ter uma identificação cada vez mais clara e consciente com o meio ambiente e com as causas socias. O surfista de verdade se deu conta de que era necessário começar a mobilizar-se frente a destruição do nosso planeta e as mazelas sociais que contaminam nossas vidas. Brothers surfistas como meu amigo Xande, que logo no primeiro dia de seu novo emprego confessou estar angustiado  por sentir-se mais uma peça do sistema de produção que alimenta uma sociedade que vive apenas para o consumo. Preocupado em gerar riqueza, mas trazendo como lastro degradação ambiental e futilidade, meu brow faz parte deste avanço dos surfistas que perceberam a relação de interdependência do meio ambiente e o prazer de deslizar sobre uma onda.

E a banda australiana Midnight Oil , comandada pelo carecão gente boa, o vocalista Peter Garret, foi precursora deste movimento de conscientização. Há 30 anos atrás, num mundo em grande parte alienado, eles já assumiam uma postura engajada e ativista, preocupada em denunciar e alertar o mundo frente ao impacto causado à natureza e à sociedade por nossos estilos de vida . O som vibrante, influenciado pelo Punk Rock e pela New Wave, era politizado, protestava e levava a reflexão, convidando a uma opção participativa de todos em busca de um meio de vida mais justo para a humanidade e para o planeta.
Além da sonoridade bacana foi conhecendo as letras das músicas que formei minha admiração por esta incrível banda. Em Blue Sky Mine, por exemplo o Midnight Oil de forma poética denunciava a ganância dos donos de grandes mineradoras de amianto em Wittenoom na Autrália, que exploraram a mão de obra barata dos trabalhadores que retornavam dos campos de batalha na segunda guerra mundial e não tinham outra opções de sustento. À época já se conhecia o perigo do trabalho nas minas de amianto, mas milhares destes esperançosos trabalhadores morreram contaminados com o ar tóxico. A canção descrevia o sofrimento dos trabalhadores e o abandono da esperança. O título da música refere-se a cor azul conferida ao céu da região pela tóxica poeira de amianto.
Já a clássica “Beds are Burning” era um contundente apelo pela salvação do nosso planeta. Nela os Oils alertavam: ”como podemos dormir, enquanto nossos berços estão queimando?”. Em “Truganini” , eles faziam uma homenagem a ultima aborígene da Tasmania, que teve toda sua família escravizada e presenciou o genocídio de sua raça. E ainda Músicas como “Put Down that Weapon”, “Dreamworld”, “The Dead Heart” e “Sell My Soul” deixavam claro que os brothers do Midnight Oil não tocavam por dinheiro e sim por um ideal. E , é lógico, também falavam de surf, como em "Surf´s Up Tonight" e "Underwater".
Não era só nas músicas que os Oils demonstravam seu ativismo. Em 1989 o petroleiro Exxon Valdez , pertencente a Esso e comandado por um capitão embriagado, derramou 50 mil metros cúbicos de petróleo no Alasca, num desastre ambiental que repercute até hoje na região. O Midnight Oil foi a Nova York e fez um show surpresa em frente a sede da Esso para tornar público a sequência de descasos da empresa que acarretaram numa das maiores catástrofes ambientais do planeta.
O último disco da banda foi Capricornia de 2001. Em 2007 Peter Garret tornou-se ministro do meio ambiente da Austrália. Em meio a "celebridades" inúteis cultuadas pela mídia, em meio a "músicas" idiotas e fúteis , o Midnight Oil com sua pulsante forma de alertar o mundo, demonstrou o que a arte e criatividade podem fazer em prol de um mundo melhor.
Nos links, Blue Ski Mine, Underwater e Surf´s Up Tonight

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